27 outubro 2013

Nós Assistimos: Gravidade

 Visualmente impecável, com um roteiro relativamente simples e excelentes atuações, "Gravidade" é um filme cheio de metáforas sobre a fragilidade humana e renascimento.
Antes de tudo vale a ressalva de que se puder assistir em 3D, faça isso. A perfeição técnica do filme tem um grande reforço com a tecnologia que nos faz quase presente, participando do 'balé' das câmeras orbitando ao redor dos personagens, eventualmente nos colocando até no ponto de vista deles.
Algumas cenas primorosas em sua fotografia, com muito da pegada do diretor de "Os filhos da esperança", com takes longos sem cortes aparentes. Os efeitos em computação são tão perfeitos que não são sequer visíveis. É de encher os olhos.

Assim como os efeitos visuais, a trilha sonora desempenha muito bem o seu papel, inclusive assumindo o papel de efeitos sonoros também, com ritmos que substituem os sons ausentes das explosões. Possivelmente, este é um dos filmes que melhor seguiu o fato de que no vácuo não há som.

#ALERTA DE SPOILERS


No filme, os textos no início da projeção já reforçam a ideia do lugar assustador que o espaço realmente pode se tornar. O filme, sem dúvida é da Sandra Bullock, que teve uma excelente chance de provar sua versatilidade como atriz, desempenhando um papel dramático, não muito comum em sua carreira, de uma mulher sem perspectiva de vida, Dra. Ryan Stone, após a trágica e precoce morte de sua filha.

Assim como na teoria do caos, um evento isolado pode causar um tornado no outro lado do mundo, quando um míssil russo atinge um suposto satélite espião do próprio país, os destroços acabam entrando em órbita de colisão com a equipe que está fazendo reparos no telescópio Hubble, pondo a vida de todos em risco. Em contrapartida à personagem  de Sandra Bullock, o veterano Matt Kowalsky, interpretado por George Clooney, se mostra como o herói e referência que talvez faltasse para ela.


George Clooney: "Você precisa aprender a deixar
as coisas partirem"
Ele como bom capitão, faz o possível para que ela se salve, mesmo que isso lhe custe a vida.
Matt, é o justo oposto da Ryan, e quer apenas espremer todos os momentos que a sua última missão antes da aposentadoria pode lhe proporcionar. Um nascer do sol ou por-do-sol são o que fazem a vida valer a pena pra ele, aparentemente. Apesar de que pareça um pouco injusto, ele, que aprecia a vida ter de morrer e ela que já vive um dia-a-dia rotineiro e sem muito sentido tenha de sobreviver. Mas é isso que os heróis fazem, não é? E nós ainda torcemos por ela. 

As metáforas visuais sobre o renascimento começam aí, com Ryan após ter de se separar de Matt, que se sacrifica, em posição fetal, fazendo com que acompanhemos a partir daí o desenvolvimento de um novo ser humano. "Você precisa aprender a deixar as coisas partirem", diz Matt, antes de se soltar do cabo que os unia.

Fugindo das ficções científicas mais comuns, neste filme as portas não abrem e fecham sozinhas, e nada é muito fácil ou simples. Não tendo as aptidões e tampouco o treinamento necessário para ser uma exímia pilota, ela se vira como pode, para voltar à Terra. O teste derradeiro está chegando, e quando novamente tudo está perdido o herói reaparece, personificado no subconsciente da Dra. fazendo com que ela não desista da sua vida.
Sandra Bullock em posição fetal marca momento do início de
uma nova vida para a personagem.

Nos dois monólogos da atriz nesta parte final são de partir o coração. A conversa com o estranho no rádio, em que ela novamente se dá conta da solidão e quando conversa com Matt em algo próximo a uma oração sobre a sua filha seguindo o que Matt havia dito à não tanto tempo atras. É ela deixando as coisas partirem, fazendo com que ela consigo dar mais um passo rumo a nova vida.

Ao fim do filme temos a cena da evolução da personagem, dirigida por Cuarón, de maneira espetacular, mostrando a personagem saindo das águas, rastejando, tal qual as primeiras espécies a deixar os mares, se erguendo de maneira ainda desajeitada, desacostumada com a gravidade, até que enfim fique gigante aos olhos dos espectadores. Metaforicamente, podemos considerar isso como os primeiros passos dela nessa nova vida.

Em resumo, é um filme para assistir no cinema e de coração e mente aberta. Assisti-lo em um momento de vulnerabilidade ou de mudanças pode fazer muito do resultado ser mais impactante. É um filme mais artístico, e se você for apenas para ver típicas explosões à la Michael Bay, há uma chance de sair um tanto quanto decepcionado. É um filme que possivelmente te deixe pensando a respeito por alguns dias, analisando os possíveis significados postos na tela te deixando o tempo para ainda degustar os resultado e digerir com o tempo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe a sua opinião sobre este post ou assunto.